Esquerda vê número de votos derreter nas periferias


A força eleitoral dos partidos de esquerda nas periferias brasileiras, tradicionalmente vistas como redutos eleitorais do Partido dos Trabalhadores (PT) e seus aliados, está em declínio. 

Um levantamento recente realizado pelo jornal O Globo revela que os candidatos de esquerda que disputam o segundo turno das eleições municipais de 2024 perderam apoio significativo em bairros de baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) em grandes capitais como São Paulo e Porto Alegre.

Queda expressiva em São Paulo

Em São Paulo, bairros historicamente alinhados com o PT, como Marsilac, Parelheiros, Grajaú e Jardim Helena, registraram uma queda considerável na quantidade de votos para candidatos de esquerda. No início dos anos 2000, esses bairros do extremo sul da capital, apelidados de "Martalândia" em homenagem à ex-prefeita Marta Suplicy (PT), eram fortalezas do partido.

Em 2000, Marta Suplicy obteve 71.974 votos no Grajaú. Em contraste, o candidato Guilherme Boulos (PSOL), que contou com Marta como vice em sua chapa, alcançou apenas 45.697 votos nessa mesma região nas eleições deste ano – uma redução de cerca de 36%. 

Outros bairros da periferia paulistana, como Jardim Helena, também refletiram esse declínio. Boulos conseguiu 37 mil votos no local, um número inferior ao desempenho de Fernando Haddad (PT) em 2012 e apenas ligeiramente maior que os resultados combinados de Haddad e Jilmar Tatto (PT) nas eleições municipais de 2020. Esses números apontam para uma erosão contínua do apoio popular ao PT e suas candidaturas nas áreas mais vulneráveis da capital paulista.

A situação em Porto Alegre

A capital gaúcha também reflete essa tendência de perda de apoio nas periferias. No bairro Lomba do Pinheiro, conhecido por seu histórico apoio ao PT, o declínio foi ainda mais dramático. Em 2000, o então candidato petista Tarso Genro recebeu impressionantes 48 mil votos da região. 

No entanto, em 2024, a candidata Maria do Rosário, também do PT, obteve apenas 19 mil votos, uma redução de mais de 50%.

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Mudança no comportamento eleitoral?

Esses dados podem indicar uma mudança significativa no comportamento eleitoral das periferias urbanas, que por décadas sustentaram o sucesso eleitoral de candidatos de esquerda. Com uma economia instável, uma crescente sensação de insegurança e a fragmentação política, o apoio a partidos como o PT e PSOL parece estar se diluindo nessas regiões.

Especialistas apontam que a ascensão de novas lideranças políticas de centro e direita, que têm focado em questões como segurança pública, combate à corrupção e melhorias na infraestrutura local, pode estar atraindo eleitores dessas áreas que antes se identificavam com as propostas da esquerda.

Além disso, a desconexão entre a elite política de esquerda e as demandas emergentes das periferias, especialmente em termos de geração de emprego e melhoria de serviços públicos, pode estar contribuindo para essa redução de votos.

Desafios para a esquerda

A queda no apoio nas periferias representa um desafio crucial para a esquerda brasileira, que precisa reconectar suas propostas com os interesses e necessidades desses eleitores. A perda de terreno em regiões que antes eram bastiões da esquerda pode ter um impacto duradouro nas futuras eleições, tanto em nível municipal quanto nacional.

Esses resultados revelam que, para recuperar o terreno perdido, será necessário reavaliar o discurso e as ações políticas, visando reconquistar o eleitorado tradicionalmente leal à esquerda, que agora parece mais disperso e receptivo a outras propostas.


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