Esquerda perde metade das capitais do Nordeste; direita domina as do Centro-Oeste


Os resultados das eleições municipais de 2024 revelaram um significativo realinhamento político nas capitais brasileiras, com uma predominância de partidos de centro e de direita. 

Entre os 26 prefeitos eleitos no primeiro e segundo turno, 15 pertencem a partidos de centro, 9 à direita e apenas 2 à esquerda, de acordo com o GPS ideológico da Folha. 

Esse panorama sugere um desafio crescente para o campo político da esquerda, que enfrenta sua menor presença em capitais desde a redemocratização.

Nordeste: domínio da direita e encolhimento da esquerda

O Nordeste, historicamente um reduto da esquerda, apresentou uma mudança acentuada neste ano. Das nove capitais nordestinas, seis foram conquistadas por candidatos de direita, uma pelo centro e apenas duas pela esquerda, marcando uma drástica redução em comparação com 2020, quando a esquerda venceu em quatro capitais, o centro em duas, e a direita em três. 

Essa transformação representa um dos piores resultados para o campo político do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na região desde 1985, um cenário que pode alterar as dinâmicas políticas locais e federais.

As perdas expressivas no Nordeste levantam questões sobre a efetividade das estratégias eleitorais de partidos de esquerda e sobre como esses grupos buscarão reconquistar apoio popular em uma região onde sempre mantiveram alta aceitação. 

As mudanças podem estar ligadas a novos discursos e alianças, como o fortalecimento do conservadorismo social e a crescente influência de lideranças da direita, que têm mobilizado eleitores em áreas urbanas e rurais da região.

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Centro-Oeste: uma hegemonia da direita

No Centro-Oeste, o domínio da direita foi completo. As quatro capitais da região — Goiânia, Campo Grande, Cuiabá e Brasília — elegeram prefeitos alinhados com partidos de direita, consolidando uma tendência que se acentuou nos últimos anos. 

Essa hegemonia no Centro-Oeste reflete uma convergência ideológica das cidades médias e grandes da região, onde o conservadorismo social e econômico encontra ressonância entre os eleitores.

A crescente predominância da direita no Centro-Oeste reforça sua influência na política nacional, em uma região considerada estratégica pela produção agropecuária e pelos interesses econômicos e políticos que ela representa. Esse apoio consolidado tende a impulsionar o crescimento e fortalecimento de lideranças locais em futuras disputas estaduais e federais.

Sul e Sudeste: o centro como força dominante

No Sul e Sudeste, o equilíbrio de forças entre partidos de centro prevaleceu, com 6 das 7 capitais sendo governadas por prefeitos de perfil centrista. O PSD obteve controle de quatro capitais importantes — Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba e Florianópolis —, enquanto o MDB conquistou São Paulo e Porto Alegre. 

Esse avanço do centro nestas regiões reforça a presença de partidos moderados, que se posicionam entre as pautas progressistas e conservadoras, buscando atrair uma base eleitoral ampla e plural.

A ascensão de lideranças de centro pode ser um reflexo de eleitores que buscam uma alternativa política em meio a uma polarização ideológica nacional, e posiciona o PSD e o MDB como forças políticas relevantes em um momento onde a moderação e o diálogo são valorizados. 

Desafios para a esquerda e uma nova configuração política

O novo cenário político nas capitais brasileiras indica desafios substanciais para os partidos de esquerda, que precisarão reavaliar suas estratégias para reconquistar eleitores em grandes cidades. 

A queda no Nordeste, onde o PT e partidos de esquerda sempre mantiveram forte influência, representa um retrocesso significativo e requer maior engajamento com as demandas e expectativas dos eleitores locais.

Com a direita consolidando-se em importantes capitais e o centro se estabelecendo em regiões decisivas, como o Sul e Sudeste, o cenário para 2026 deve exigir um reposicionamento estratégico de partidos e lideranças. 

Essa nova configuração política nas capitais é um termômetro para o futuro e sinaliza uma possível redistribuição de forças entre centro, direita e esquerda, que definirá os rumos da política nacional nos próximos anos.


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