Bolsonaristas patriotas superam extrema-esquerda petistas na ‘bancada da juventude’ e reforçam dificuldade do PT em se renovar


Partido de Jair Bolsonaro elege o dobro de jovens vereadores em relação ao PT nas dez maiores cidades do país, refletindo a dificuldade dos petistas em renovar suas lideranças

Brasília — O Partido dos Trabalhadores (PT) enfrenta um crescente desafio para se renovar. Com seu principal líder, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, se aproximando dos 80 anos, a legenda luta para apresentar novos rostos e atrair o eleitorado jovem. O reflexo dessa dificuldade foi claramente observado nas eleições municipais de 2024. 

Nas dez maiores capitais do país, o PT conseguiu eleger apenas dois vereadores com menos de 30 anos, enquanto o Partido Liberal (PL), de Jair Bolsonaro, garantiu a eleição de cinco jovens para as câmaras municipais dessas cidades.

Segundo levantamento feito pelo Estadão, apenas 5,7% dos 35 vereadores eleitos pelo PT nas dez maiores capitais brasileiras têm menos de 30 anos. Já no PL, essa porcentagem é de 10,6% entre os 47 vereadores eleitos no mesmo grupo de cidades. A análise considerou as capitais São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza, Salvador, Belo Horizonte, Porto Alegre, Manaus, Curitiba, Recife e Goiânia.

Entre os petistas que compõem essa chamada "bancada da juventude", destacam-se Pedro Rousseff, de 24 anos, eleito em Belo Horizonte, e Maíra Cunha, conhecida como "Maíra do MST", de 29 anos, eleita no Rio de Janeiro. Pedro, sobrinho da ex-presidente Dilma Rousseff, foi o sexto vereador mais votado na capital mineira e é uma das apostas do PT para a renovação. Ele tem forte engajamento nas redes sociais, sendo seguido por 126 mil pessoas no Instagram, e não foge de embates ideológicos com nomes de destaque do bolsonarismo, como o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) e Bruno Engler (PL), que concorre à Prefeitura de Belo Horizonte.

Já Maíra Cunha, sem um sobrenome de peso político, foi a grande aposta do partido para fortalecer sua representação no Rio de Janeiro. A candidatura da petista teve investimento significativo de R$ 307 mil do diretório nacional do partido e contou com o apoio público de várias personalidades, entre elas Chico Buarque, Bela Gil e o ator Paulo Betti. Esse respaldo ajudou a impulsionar sua campanha e garantir a vaga na Câmara carioca.

Por outro lado, o PL de Jair Bolsonaro conseguiu emplacar jovens com forte presença nas redes sociais e com uma postura mais agressiva no embate ideológico, especialmente no que chamam de "guerra cultural". Lucas Pavanato, de 26 anos, foi o vereador mais votado do Brasil nas eleições municipais e é seguido por 1,3 milhão de pessoas no Instagram. 

Ao lado dele, outros jovens bolsonaristas conquistaram cadeiras nas câmaras municipais, como Thiago Medina (21 anos, Recife), Bella Carmelo (23 anos, Fortaleza), Zoe Martínez (25 anos, São Paulo) e Gilson Machado Filho (26 anos, Recife). Zoe Martínez, por exemplo, tem uma impressionante base de 1,4 milhão de seguidores, reforçando a estratégia bolsonarista de investir em jovens com grande apelo digital.

Essa diferença não se resume apenas ao número de vereadores eleitos. Em termos de votos, os jovens do PL conquistaram 276,4 mil eleitores nas dez maiores capitais, enquanto os petistas mais jovens conseguiram apenas 31,3 mil votos. Além disso, os petistas "vintões" somam 139,4 mil seguidores no Instagram, enquanto os bolsonaristas somam 2,8 milhões — uma enorme vantagem digital.

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Desafios de renovação

O contraste entre as duas siglas é ainda mais evidente quando se observa a média de idade dos vereadores eleitos por ambas as legendas. Em São Paulo, o bom desempenho de Luna Zarattini, vereadora de 30 anos, foi fundamental para a eleição da bancada petista na capital paulista. Ela foi a segunda mais votada do PT, com 101 mil votos. No entanto, mesmo com sua juventude, a média de idade dos vereadores do PT paulistano permanece superior à dos bolsonaristas: 49,8 anos contra 44,6 do PL.

O quadro se repete em outras capitais. Em Salvador, um reduto histórico do PT, o partido conseguiu eleger apenas uma vereadora, Marta Rodrigues, de 65 anos. Em Manaus, o único representante petista será Zé Ricardo, de 60 anos. Em Curitiba, Angelo Vanhoni, de 69 anos, foi o mais votado do PT. Goiânia também conta com um puxador de votos na faixa dos 60: Professor Edward, de 61 anos.

Dentro do PT, essa falta de renovação gera discussões e preocupações. Dirigentes do partido tentam mostrar que há novos quadros surgindo no cenário político. Camila Moreno, integrante da Executiva Nacional do PT, postou um vídeo nas redes sociais questionando a crítica de que o partido não se renova: "A gente cansou de ouvir isso de analistas políticos. Mas será verdade?". Ela citou nomes como Pedro Rousseff, Luna Zarattini e Tainá De Paula (41 anos, eleita no Rio de Janeiro), além de Luiza Dulci (34 anos, eleita em Belo Horizonte).


Força bolsonarista nas redes e no Congresso

Do outro lado, o PL investe fortemente em lideranças jovens com grande influência nas redes sociais. Nikolas Ferreira, de 28 anos, que foi o deputado federal mais votado do Brasil em 2022 e possui 12 milhões de seguidores no Instagram, é um dos principais nomes dessa estratégia. Seu apoio foi crucial para a eleição de Pablo Almeida (PL), ex-assessor e agora o vereador mais votado de Belo Horizonte, com quase 40 mil votos.

A dificuldade de renovação do PT também é refletida na Câmara dos Deputados, onde a idade média dos parlamentares eleitos pelo partido nas últimas eleições é de 55,7 anos, a mais alta entre todas as legendas. Em comparação, a bancada do PL tem média de 49,5 anos.

Há 40 anos, quando o PT entrou na Câmara pela primeira vez, sua bancada era composta por jovens lideranças. Naquela época, 50% dos deputados petistas tinham menos de 40 anos, como Luiz Dulci, José Genoino e Eduardo Suplicy. Hoje, apenas 13% dos deputados do partido têm menos de 40 anos, enquanto quase um terço da bancada é composta por quinquagenários, e cerca de 38% têm mais de 60 anos.

Sem uma renovação substancial nas Câmaras Municipais, o PT pode enfrentar dificuldades para disputar espaços no futuro, especialmente contra os bolsonaristas, que a cada eleição consolidam sua força com jovens candidatos, engajamento digital e altas votações.


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