Menos comida na mesa: preço de alimento supera inflação e sobe quase 50%


Se você sente que o dinheiro não rende mais no supermercado, essa sensação tem fundamento. Nos últimos quatro anos, o preço dos alimentos subiu consideravelmente, superando a inflação geral. 

Segundo dados do IBGE, de janeiro de 2020 a agosto de 2024, o custo da alimentação no domicílio aumentou quase 49%, enquanto a inflação geral foi de aproximadamente 31%. 

Alimentos básicos, como cereais, leguminosas e oleaginosas (arroz, feijão, etc.), tiveram uma alta de mais de 85%. Já os legumes, tubérculos e raízes, como batata, cebola, e tomate, quase dobraram de preço, com um aumento de 97%. 

Até o ovo, alternativa mais acessível de proteína, teve seu preço elevado em 46%. As frutas subiram 91%, enquanto carnes e pescados tiveram um aumento mais moderado, de 15% e 17%, respectivamente.

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Fatores por trás do aumento

De acordo com André Braz, coordenador dos Índices de Preços do FGV Ibre, diversos fatores explicam essa alta nos preços dos alimentos. A pandemia gerou uma demanda maior, enquanto crises hídricas e problemas climáticos, como El Niño e La Niña, prejudicaram a produção agrícola. A guerra entre Rússia e Ucrânia também contribuiu, elevando os preços das commodities.

Embora em 2023 tenha havido uma breve trégua na inflação dos alimentos, o ano de 2024 voltou a ser desafiador devido aos fenômenos climáticos, o que promete manter os preços pressionados.

Impacto maior sobre as famílias de baixa renda

A inflação dos alimentos afeta desproporcionalmente as famílias mais pobres, pois a maior parte de seu orçamento é destinada à alimentação. Para essas famílias, um aumento de quase 50% nos alimentos significa menos comida na mesa, já que seus salários são corrigidos pela inflação média, de 31%.

Para as classes média e alta, o impacto também é sentido, mas essas famílias têm mais flexibilidade para ajustar seus gastos e absorver parte da alta nos preços.

Perspectivas para o futuro

Infelizmente, a previsão para os próximos meses não é animadora. Com a seca e as queimadas afetando as safras, é esperado que os preços continuem subindo. A previsão do Bradesco é que a inflação dos alimentos chegue a 6,3% até o final de 2024. Além disso, a energia elétrica também deve permanecer cara, com a tarifa em bandeira vermelha até o fim do ano.

Walter Franco, professor de Economia do Ibmec-SP, aponta que, para que os preços dos alimentos voltem a cair, o país precisa de safras mais robustas e, principalmente, de uma recuperação consistente no mercado de trabalho, com salários que acompanhem o custo de vida. 

No entanto, ele observa que, embora o desemprego esteja em queda, os salários não têm subido de forma significativa, o que dificulta a recuperação do poder de compra das famílias.

Alternativas do consumidor

Diante dessa realidade, os brasileiros recorrem a estratégias já conhecidas para enfrentar a alta de preços: compram menos, trocam de marcas e substituem produtos quando possível. Mesmo com a possibilidade de uma leve deflação, especialistas alertam que os alimentos e a energia devem manter a inflação alta até o fim do ano.



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