“Tenho pesadelos horríveis com a Globo”, desabafa repórter
Veruska Donato |
Veruska Donato processou a TV Globo por impor padrões de beleza e praticar misoginia
Mesmo tendo deixado a TV Globo em 2021, a repórter
Veruska Donato segue carregando trauma da emissora, com – literalmente –
pesadelos com a empresa dos Marinho. A jornalista está com uma causa na Justiça
contra a emissora e chegou a ter vitória em primeira instância.
– Tenho pesadelos com a Globo quase toda semana. Tenho
pesadelos horríveis – disse em entrevista ao Splash, coluna do UOL.
– Sonho que estou contratada, trabalhando na empresa
ainda, e aí, quando chego com o meu material para botar no ar, eles dizem:
“Não, mas você não trabalha mais aqui”. É tudo muito confuso. Fico sem casa,
começo a passar fome, não arrumo mais emprego em lugar nenhum, porque é mais ou
menos isso que aconteceu – continuou.
A jornalista saiu da Globo em 2021, após ficar 77 dias
afastada por recomendação médica. Ela foi acometida de burnout, um distúrbio
emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico
resultante de trabalho desgastante.
– Eu fui passar o meu crachá [na catraca da emissora] e
comecei a chorar. Era uma tristeza, uma tristeza. Eu falava: “O que está
acontecendo? Eu gosto de ser jornalista, eu gosto de ser repórter. O que está
acontecendo comigo?” – relatou.
Donato entrou na Justiça, acusando a emissora de impor
padrões de beleza e praticar misoginia. A jornalista apresentou como prova um
comunicado interno distribuído em 2017 pela direção de Jornalismo de São Paulo,
que listava regras de beleza. O documento era destinado apenas para mulheres e
determinava regras como a cor de esmalte, a proibição do uso de franjas e tipo
de tecidos que deveriam ser evitados para não mostrar “estômago mais avantajado
e barriguinhas persistentes”.
No início de abril deste ano, o juiz Adenilson Brito
Fernandes, da 37ª Vara do Trabalho de São Paulo, julgou procedente a reclamação
trabalhista de Veruska. Com a decisão, a Globo terá que pagar uma indenização
de R$ 50 mil.
– Eu queria que as pessoas soubessem, eu queria que
soubessem por mim que não foi legal. Eu queria que as pessoas soubessem que eu
sofri. Eu sofri. Doía você se achar incompetente. Dói, depois de tantos anos, e
você beirando os 50, porque quando eu saí de lá eu tinha 49. Eu fiz por dor,
porque doeu – desabafou a jornalista.
– Espero que a situação clareie para muitas mulheres.
Estou falando isso exatamente para dizer que demorei muitos anos para descobrir
que a Globo exigia tanto desse padrão, dessa estética, que eu adoeci – disse.
Após a decisão do juiz, a Globo foi procurada e informou,
por meio de nota, que não comenta casos sub judice:
A Globo não comenta casos sub judice, mas reitera que a
empresa mantém um Código de Ética em linha com as melhores práticas atualmente
adotadas, que proíbe terminantemente o assédio e deve ser cumprido por todos os
colaboradores, em todas as áreas da empresa. Além disso, também oferece
treinamentos constantes para manter um ambiente de trabalho saudável e um
sistema de compliance eficiente, que apura criteriosamente todos os relatos que
chegam à Ouvidoria, punindo comportamentos contrários ao Código de Ética, inclusive
com desligamentos. Nosso sistema de compliance também prevê o apoio integral
aos relatantes, proibindo qualquer forma de retaliação em razão das denúncias.
Comunicação da Globo
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