Congresso aprova Orçamento de 2024 com recorde de emendas de R$ 53 bilhões e fundão eleitoral de quase R$ 5 bilhões, mais que o dobro das eleições de 2020
O Congresso Nacional
aprovou nesta sexta-feira, 22, último dia do ano legislativo, o Orçamento de
2024 com um corte em torno de R$ 7 bilhões no Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC), principal vitrine do governo do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva. O texto segue agora para sanção presidencial.
Trata-se do primeiro Orçamento do terceiro mandato de Lula, uma vez que o de 2023 foi elaborado na gestão Bolsonaro. A primeira versão do Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA), do relator, deputado Luiz Carlos Motta (PL-SP), trazia uma “tesourada” de R$ 17 bilhões do PAC, ao prever R$ 44,3 bilhões para o programa no ano que vem, em vez dos R$ 61,3 bilhões indicados pelo Executivo.
No novo texto, o parlamentar destinou em torno de R$ 54 bilhões ao programa. O corte serviu para turbinar o valor das emendas de comissão, que passaram de R$ 11,3 bilhões - piso estabelecido pela Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2024 - para R$ 16,6 bilhões no ano que vem. O texto também prevê um valor recorde para emendas parlamentares, de R$ 53 bilhões.
Segundo o texto, parte
das verbas realocadas para o PAC (R$ 6,3 bilhões) serão provenientes de
despesas obrigatórias que foram redimensionadas, devido à inflação menor do que
o esperado. Com o novo cenário, a correção inflacionária do salário mínimo
passará de 4,48% para 3,85%, reduzindo uma série de gastos federais, como
benefícios previdenciários, abono salarial e seguro-desemprego.
O valor do mínimo em
2024, com base nesse novo porcentual, deverá ficar em torno de R$ 1.415, em vez
dos R$ 1.421 previstos inicialmente. O restante da recomposição do PAC virá de
remanejamentos de outras rubricas do Orçamento.
O programa social Bolsa
Família, outra grande bandeira do presidente Lula, teve a verba de R$ 168,6
bilhões mantida pelo relator. Já os recursos para o Minha Casa Minha Vida
haviam sido reduzidos na primeira versão do parecer, de R$ 13 bilhões para R$
8,9 bilhões, mas técnicos do Congresso dizem que o valor ainda é uma incógnita
e novos cálculos precisam ser feitos.
Quanto à meta fiscal do governo, o Orçamento de 2024 prevê um resultado primário (diferença entre receitas e despesas, sem contar os juros da dívida) próximo de zero, em linha com o objetivo do ministro da Fazenda, Fernando Haddad - meta vista com cada vez mais ceticismo pelo mercado. O relator prevê até um pequeno superávit (saldo positivo) de R$ 3,5 bilhões nas contas públicas.
O relator limitou ainda
o poder do governo de modificar a alocação de verbas do programa sem precisar
do aval de deputados e senadores. Como mostrou o Estadão/Broadcast, o retorno
oficial do PAC abriu uma disputa entre Executivo e Congresso sobre o poder de
remanejamento dos recursos.
Motta também modificou
trechos que foram incluídos pela equipe econômica em parte das despesas
discricionárias (não obrigatórias, como investimentos) que ampliavam a
liberdade do governo para abrir créditos suplementares de algumas pastas sem
intermediação com o Congresso.
Fundo eleitoral
Outro sinal de poder do Congresso ficou explícito no valor direcionado ao fundo eleitoral para as eleições municipais de 2024: uma cifra de quase R$ 5 bilhões. A diferença de R$ 4 bilhões entre o valor originalmente proposto pelo governo (R$ 939,3 milhões) e o novo montante (R$ 4,9 bilhões) será retirada das emendas de bancadas estaduais.
Dessa forma, o fundo
eleitoral para a campanha de prefeitos e vereadores será o mesmo que bancou as
eleições presidenciais de 2022, o que representa mais do que o dobro das
últimas eleições municipais, em 2020, de R$ 2 bilhões.
A maior fatia do fundão
em 2024 será destinada ao PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro e do
relator do Orçamento.
Emendas recorde
O Orçamento de 2024 terá
volume recorde de emendas parlamentares, no valor de, aproximadamente, R$ 53
bilhões. No total, os parlamentares terão direito a cerca de R$ 16,6 bilhões em
emendas de comissão, R$ 25 bilhões em emendas individuais impositivas
(obrigatórias) e R$ 11,3 bilhões em emendas de bancada estadual.
Emendas parlamentares
são recursos no Orçamento do governo federal que podem ser direcionados aos
redutos eleitorais de deputados e senadores para, por exemplo, realizar obras e
implementar políticas públicas.
Este ano, o relator do
Orçamento de 2024, deputado Luiz Carlos Motta (PL-SP), turbinou os recursos
destinados às emendas de comissão. A LDO aprovada este ano definiu que o valor
destinado às emendas de comissão será equivalente a “ao menos” 0,9% da Receita
Corrente Líquida (RCL) do ano de 2022, o que representa R$ 11,3 bilhões. A
inclusão da expressão “ao menos” abriu espaço para que parlamentares
pleiteassem um valor maior, que chegou a R$ 16,6 bilhões.
Apesar de o governo não
ser obrigado a pagar esses valores, como ocorre no caso das emendas individuais
e de bancada estadual, que são obrigatórias, a cúpula do Legislativo decidiu
apostar nessas verbas como forma de compensar o fim do orçamento secreto
declarado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O movimento
capitaneado pelos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado,
Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
A ideia é de que os
presidentes das duas Casas possam obter um maior controle sobre os recursos
parlamentares, por meio das emendas de comissão, nos moldes do antigo orçamento
secreto. O esquema, revelado pelo Estadão e declarado inconstitucional pelo Supremo
Tribunal Federal (STF), consistia na distribuição de emendas sem transparência
pela cúpula do Congresso.
Na modalidade das
emendas de comissão, o autor do recurso não é um deputado ou um senador, mas a
própria comissão. Via de regra, a escolha das programações que são objeto das
emendas é, inclusive, uma decisão colegiada.
“A emenda de comissão
está balanceada não de jeito técnico, mas de jeito político”, afirmou a
deputada Adriana Ventura (Novo-SP) ontem, durante votação do relatório
orçamentário na Comissão Mista de Orçamento (CMO).
Segundo ela, esse tipo
de emenda virou apenas um “disfarce”. “Virou balcão de negócios, a gente tem de
ser claros quanto a isso. A emenda de relator (batizada de orçamento secreto,
extinto pelo STF) virou emenda de comissão. Isso é claro e nítido, até as
paredes sabem”, destacou a parlamentar.
Nenhum comentário