Como ministro, Flávio Dino combateu mais a internet do que o crime
Indicado de Lula ao STF pôs em sua mira youtubers e redes sociais – enquanto criminosos apenas aumentaram seu poder
Flávio Dino está processando o youtuber Monark por
tê-lo chamado de “gordola”. Parece que o ministro não está para brincadeira no
combate ao crime. Só há um problema: o indicado do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva à próxima vaga no STF parece muito mais empenhado em combater pessoas
que descrevam objetivamente sua, digamos, situação de pessoa acima do peso, do
que em diminuir a criminalidade, que ceifa mais vidas toda vez que a esquerda
volta ao poder.
Parrudas, certamente, estão as ações da criminalidade.
A situação é especialmente delicada na Bahia, segundo Estado com maior votação
pró-Lula, com 72% dos votos, sob o governo petista de Jerônimo Rodrigues.
Criminosos têm disputado o controle territorial do tráfico de drogas com ações
para deixar o Rio de Janeiro com inveja. Sem os morros para garantir controle
territorial mais “natural”, criminosos da Bahia tentam solidificar o domínio de
território com táticas de guerra civil.
Nada de bom a se apresentar na segurança
As facções que tentam se instalar como monopólios
de fornecimento de drogas fazem coordenações com organizações criminosas já com
capacidade de logística e operacional no crime, já com redes de distribuição de
drogas e armas dentro e fora de presídios.
Gangues locais, como o Bonde do Maluco (BDM), agora
disputam território com facções maiores advindas do sudeste, principalmente
Comando Vermelho e Primeiro Comando da Capital (PCC). Os dois nomes parecem
tabu dentro do governo e do sistema de Justiça – mas são forças atrativas para
“pequenos” criminosos, que começam a carreira com roubos a ônibus e veículos,
ou até homicídios, e são cooptados pelas grandes corporações do crime, que
possuem em sua base de operação advogados, ONGs, cooptação e ameaças a
policiais e juízes, além da “proteção” dada a criminosos contra rivais – e o
sonho de uma vida nababesca como a dos chefões do tráfico. Pertencer a uma
dessas facções acaba sendo um gigantesco atrativo para criminosos, além de uma
garantia de que logo estarão nas ruas novamente. O próprio Marcola, recentemente,
teve uma prisão revogada pela morte de um policial militar. Uma diferença
brutal do tratamento jurídico comparado ao que é reservado a idosas com
camiseta do Brasil no lugar errado e na hora errada.
Com a diferença topográfica do Rio de Janeiro, o
povo baiano tem testemunhado cenas que parecem retiradas de filmes de gangues.
Em 15 de setembro, cinco pessoas foram mortas em tiroteio durante conflito com
a polícia, incluindo o policial federal Lucas Caribé. Nos dias seguintes,
outros cinco suspeitos de participação no primeiro tiroteio foram mortos pela
polícia. A ação resultou em uma operação inédita: três blindados da Polícia
Federal se uniram à força-tarefa com a Polícia Militar e a Polícia Civil. A
Bahia registra dez estupros por dia. Em um único dia de setembro, sete pessoas
foram feitas reféns numa favela pela manhã, e mais dez à tarde, incluindo uma
idosa e uma criança de 3 anos.
A Bahia virou alvo preferencial dos bandidos pela
presença de portos importantes – e por ter muito menos presença da força
policial do Estado do que em São Paulo ou Estados mais ao sul. A rota comercial
– e também a ilegal — pelo litoral baiano é importante e disputada. O aumento
do polo industrial não foi acompanhado pelo policiamento adequado – e a Bahia,
governada pelo PT há 15 anos, não é um exemplo de efetividade para manter os
baianos vivos. O que parece, no máximo, detalhe incômodo para políticos de
esquerda – não é o tipo de ação, digamos, robustas que marcariam o corpo de
atuação de Flávio Dino e Jerônimo Rodrigues.
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Apesar do imenso apoio à esquerda na Bahia, manter
o dinheiro na carteira e o coração pulsando dos baianos não parece uma
prioridade dos governos. A situação não é diferente no Rio, na Paraíba, em
Alagoas ou no Amapá, que possui o recorde de assassinatos proporcionais à
população, apenas para citar alguns exemplos.
O presidente do PSB, Carlos Siqueira, partido de
Flávio Dino, defendeu o ministro afirmando que “ele está fazendo um trabalho
que ninguém faria de defesa do próprio governo e da democracia”. Defender o
próprio governo chega a ser meio pleonásmico. Só parece estar mais fácil
“defender a democracia” da boca para fora do que deixar os eleitores, bem,
vivos.
Apoiado pela velha mídia, e apenas pela velha mídia
É curioso pensar que o nome mais bem cotado pelo PT
para o STF seja o ministro da área mais mal avaliada do PT: a segurança. O
apoio a Flávio Dino parece depender quase que exclusivamente da mídia e da
repetição do mantra sobre “defender a democracia”, logo de um ex-filiado ao
PCdoB e atual PSB. Mesmo sem nenhuma boa notícia na segurança, é fácil
encontrar encômios os mais desbaratados à gestão de Dino na grande mídia. Um
jornalista da Globo News, num rompante de louvaminhas, chegou a dizer que o
socialista “sempre teve cara de ministro do Supremo”.
Talvez haja algo que explique a bajulação. Parece
ter virado uma peculiaridade do STF a investigação secreta, o inquérito sem
prestar contas à sociedade, a concentração de poder absoluto e o segredo sobre
imagens reveladoras. Tal como aconteceu com as imagens da suposta agressão a
Alexandre de Moraes no aeroporto de Roma (que viraram desenhos apresentados
pela mídia, e posteriormente apenas dois frames narrados pelo Jornal Nacional,
em vez de se mostrar o vídeo por inteiro, não se sabendo o que teriam a
esconder), Flávio Dino também ficou marcado pelo sumiço providencial das
imagens do Ministério da Justiça no 8 de janeiro.
A data marca o novo mito fundador do poder da
esquerda e, principalmente, do Supremo nas décadas vindouras: qualquer crítica
a abusos será sempre obtemperada com o discurso de que estariam “lutando contra
um golpe de Estado”, ainda que sem armas e sem nenhum político correr risco.
Fica claro que a esquerda e o STF parecem ser quem de fato comemorou o 8 de
janeiro, para justificar todo o poder discricionário que sempre pretenderam
possuir. Para manter sua narrativa de que foi “vítima de um golpe de Estado”,
em vez de mostrar por todos os ângulos como estava sob risco ditatorial, Flávio
Dino preferiu deixar as imagens serem destruídas. Nada para se ver aqui,
circulando, circulando. Parece, de fato, o modus operandi das investigações
conduzidas e julgadas pelo próprio Supremo, que também se considera vítima do
mesmo processo. A Inquisição, na Idade Média, já exigia pessoas diferentes para
conduzir inquéritos.
O sumiço providencial das imagens do Ministério da
Justiça no 8 de janeiro possui sincronicidade cirúrgica com o momento em que a
CPMI do 8 de janeiro percebia uma movimentação da esquerda e dos oficiais sob a
mão forte de Flavio Dino para deixar a multidão tomar conta da Praça dos Três
Poderes. Hoje, toda a força do governo reside na narrativa de ter sido vítima
da “uma tentativa de golpe de Estado”.
Censura em nome da democracia
Outra medida robusta de Flavio Dino pode explicar
seu favoritismo para o STF. O ministro destacou-se, nos primeiros meses do novo
governo Lula, não pelas suas ações de enfrentamento à criminalidade ou por seu
histórico de operações contra a corrupção, mas por sua luta para implementar a
censura nas redes sociais – travestida sempre pelo nome edulcorado de
“regulação” e de “combate às fake news” – e pelo afinco com que combate
críticos do governo. Um avanço rotundo.
Uma de suas medidas mais fornidas foi uma mensagem
em tom de ameaça contra as big techs, após a celeuma em torno da aprovação do
PL 2630, o autointitulado “PL das Fake News”. Em encontro com representantes do
Twitter, da Meta (dona do Facebook, do Instagram e do WhatsApp), do Google e do
YouTube, do TikTok e do Kwai, em 10 de abril, Flavio Dino vociferou que a
“liberdade de expressão foi sepultada no Brasil”. Desta feita, não era mais uma
acusação contra Bolsonaro, sempre associado a ditadura e fascismo: era um
auto-elogio. Encorpado.
Dino ainda engatou: “Nós não queremos que os
senhores passem à condição de investigados pela Polícia Federal ou de réus”. Há
muitos países tratando empresários de plataformas como investigados e réus. Por
coincidência, todos são ditaduras evitando críticas ao governo.
O comentário recorda os, por assim dizer, “momentos
brincalhões” do ministro comunista. Em uma conversa com o deputado André Fufuca
em setembro, Flávio Dino disparou: “Dinheiro eu não tenho, mas a polícia eu
tenho”. O comentário veio apenas dez dias depois de Dino ter dito a Lula que a
Polícia Federal está a serviço de “sua causa” (ou seja, de Lula), logo
emendando: “a causa do Brasil”. Uma declaração corpuda.
Não custa lembrar que a tensão entre Bolsonaro e o
STF começou, justamente, quando o ex-presidente tentou indicar Alexandre
Ramagem, ex-diretor da Abin, como Diretor-Geral da Polícia Federal – atribuição
constitucional do presidente. Na época, o ministro Alexandre de Moraes
indeferiu a indicação, alegando a “proximidade” entre Ramagem e a família
Bolsonaro. Acusação inexistente na Constituição.
Deve-se lembrar de Flávio Dino também, é claro, por
uma excêntrica e espalhafatosa visita à favela Nova Holanda, no Complexo da
Maré, no Rio de Janeiro, aonde foi sem precisar sequer de escolta policial –
luxo ao qual cidadãos que não morem no complexo não podem se dar, sem riscos
gravíssimos à sua vida. Basta lembrar da rede de apoio que facções possuem, com
ONGs e ampla atuação dentro do sistema jurídico, para ter mais dúvidas do que
respostas. Sem surpresa, a ONG na qual Dino alegadamente foi acompanhar o lançamento
de um boletim sobre “Direito à Segurança Pública” recebe dinheiro do magnata
George Soros. Na ocasião, o ministro aproveitou para acusar “milicianos e
milicianinhos” pelas dúvidas sobre o que um ministro fazia numa área controlada
pelo crime organizado – e como consegue entrar na favela sem nem sequer
escolta. O mesmo termo que a esquerda aprendeu a usar para descrever a direita
– sem saber que “milicianos” e traficantes trocam de posição constantemente,
sem muita clareza da diferença entre as atividades. Não é, portanto, pelo
combate à criminalidade que Flávio Dino se tornou o ministro da Justiça mais
famoso do Brasil – é muito mais pelo combate à direita e pela censura às redes
sociais. No governo Lula, parece que os criminosos têm cada vez menos preocupações
com a polícia e com a Justiça – mas deixe que eles abandonem os fuzis e ousem
postar notícias imprecisas contra políticos e burocratas, ou ainda se aventurem
a ter a pachorra de dizer que alguém acima do peso está gordo, para eles verem
só o que acontece.
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