PCC usou arma idêntica à furtada do Exército em execução na fronteira


Metralhadora calibre .50 foi usada para matar Jorge Raffat Toumani, o “Rei da Fronteira”, na divisa entre o Brasil e o Paraguai

O modelo das 13 metralhadoras antiaéreas furtadas do Arsenal do Exército, na semana passada, em Barueri, na Grande São Paulo, é idêntico ao que foi usado por membros do Primeiro Comando da Capital (PCC) para executar o narcotraficante Jorge Rafaat Toumani, o “Rei da Fronteira”, em 2016. Ele dominava a fronteira entre o Brasil e o Paraguai, estratégica para a venda de drogas.

Como revelado pelo Metrópoles, além das 13 metralhadoras calibre .50, que derrubam até aeronaves, criminosos ainda não identificados furtaram 8 metralhadoras calibre 7.62 de dentro do quartel do Comando Militar do Sudeste, na quarta-feira (11/10).

Além de abater aeronaves, a metralhadora antiaérea perfura com facilidade a blindagem de carros, caso do veículo em que Rafaat estava.

Chamado a negociar com o PCC, o “Rei da Fronteira” se negou, na ocasião, a dividir a comercialização da cocaína: “Aqui quem manda sou eu”. Desde então, passou a andar sob escolta de mercenários da Europa Oriental.

Uma câmera flagrou o momento em que o carro blindado de Rafaat para no semáforo e é metralhado com tiros de .50.

O tranco da metralhadora foi tamanho que o assassino de Rafaat, posicionado na traseira de uma caminhonete, precisou ser hospitalizado porque a arma o atingiu no queixo.


Furtos de armas

O furto de 21 metralhadoras do Arsenal de Guerra do Exército em Barueri, na Grande São Paulo, é o maior desvio de armas registrado pelas Forças Armadas desde 2009, segundo levantamento do Instituto Sou da Paz.

O Exército abriu investigação e deu ordem para que toda a tropa fique aquartelada.

Até então, o maior furto de armas havia acontecido em março de 2009, início da série histórica do Sou da Paz, quando sete fuzis foram levados do 6º Batalhão de Infantaria Leve, em Caçapava, também em São Paulo. Essas armas foram recuperadas depois.

Ainda de acordo com o levantamento, 27 armas do Exército Brasileiro haviam sido desviadas, ao todo, no período entre 2015 e 2020. Nesse recorte temporal, o Amazonas é o estado com o maior sumiço (10 armas), seguido do Rio de Janeiro (cinco) e de Roraima (três).

Já a Marinha teve 21 armas desviadas e a Aeronáutica contabilizou seis no período.

O relatório mostra, ainda, que fuzis e pistolas eram, até então, os tipos de arma de fogo mais procurados pelos bandidos, com 10 e nove casos registrados, respectivamente.


Aquartelamento

O Comando Militar do Sudeste informou, no sábado (14/10), que mantém 480 militares aquartelados para averiguação por causa do sumiço das armas de guerra. Os militares estão proibidos de deixar a unidade e voltar para casa.

“Toda tropa está aquartelada de prontidão, conforme previsões legais, para poder contribuir para as ações necessárias no curso da investigação”, diz o comunicado. “Os militares estão sendo ouvidos para que possamos identificar dados relevantes para a investigação.”

Ainda segundo o Comando Militar do Sudeste, as metralhadoras furtadas eram “inservíveis” e “estavam no Arsenal, que é uma unidade técnica de manutenção, responsável também para iniciar o processo de desfazimento e destruição dos armamentos que tenham sua reparação inviabilizada”.

Familiares ouvidos pelo Metrópoles relataram dificuldade para conseguir informações sobre os parentes aquartelados, porque os celulares de todos foram apreendidos.

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