Morre a atriz Aracy Balabanian, aos 83 anos no Rio de Janeiro
A atriz Aracy Balabanian morreu aos 83 anos no Rio
de Janeiro.
Ela estava internada na Clínica São Vicente, na
zona sul da capital fluminense. O hospital confirmou a morte, mas não divulgou
a causa.
Com mais de meio século de carreira, a artista ficou marcada por seus papéis em novelas e outras produções da TV Globo, como as personagens Cassandra, em “Sai de Baixo”, e Dona Armênia, em “Rainha da Sucata”.
Filha de imigrantes e paixão pelo teatro
Aracy nasceu em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, em
22 de fevereiro de 1940.
Filha de imigrantes armênios, ela se apaixonou pelo
teatro e decidiu ser atriz ao ser levada pelas irmãs mais velhas, quando já
morava em São Paulo, para assistir uma peça do dramaturgo Carlo Godoni.
“Eu chorei muito. Estava emocionada porque era
aquilo que eu queria. É muito difícil para uma criança de 12 anos, ainda mais
naquela época, querer ser atriz e já perceber que ia ter muitas dificuldades”,
disse Aracy em depoimento ao Memória Globo.
Ela relembrava que seu pai era contra a escolha de
ser atriz: “Comecei em uma época em que não era bonito fazer televisão, nem
teatro.”
Aos 14 anos, estudando no Colégio Bandeirantes, na
capital paulista, ela assistiu uma palestra do dramaturgo Augusto Boal, que a
convidou a fazer um teste para o Teatro Paulista do Estudante. Ela passou e seu
primeiro trabalho foi a peça “Almanjarra”.
Ao Memória Globo, ela lembra de ler uma crítica de
Décio de Almeida Prado e Sábado Magaldi: “Eles escreveram uma crítica que
terminava dizendo: ‘Aracy Balabanian: guardem esse nome’ Eu fique possuída.”
Ao terminar o colégio, ela entrou para a
Universidade de São Paulo (USP) onde estudou simultaneamente na Escola de Arte
Dramática (EAD) e no curso de Ciências Sociais da Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas (FFLCH), que não chegou a concluir.
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Carreira na televisão e a paixão por novelas
Após participar de alguns espetáculos do Teatro
Brasileiro de Comédia (TBC), ela participou de uma adaptação da tragédia grega
de Sófocles, “Antígona”, em um teleteatro da TV Tupi. Ali começou sua carreira
na televisão, que durou mais de 50 anos e passou por mais de 30 novelas.
A primeira foi entre o final de 1964 e início de
1965, na TV Record: “Marcados pelo Amor”, escrita por Walther Negrão e Roberto
Freire. Em 1968, fez a novela “Antônio Maria”, na qual fez par romântico com o
ator Sérgio Cardoso. Ela contava que foi esse papel que fez seu pai aceitar sua
escolha de carreira.
“Eu costumo dizer que o Brasil parou nessa novela e
o meu pai parou em mim”, disse ao Memória Globo. A estreia na TV Globo, onde
trabalhou até o final de sua vida, foi em 1972, na novela das sete em
preto-e-branco “O Primeiro Amor”, exibida entre janeiro e outubro daquele ano.
Em 1973, viveu Gabriela e contracenava com os
bonecos personagens do infantil “Vila Sésamo”.
“Vinte anos depois, eu comecei a ver moças e
rapazes me chamando de ‘minha Xuxa’. É muito gratificante saber que tem
crianças que aprenderam a falar cantando a musiquinha de Vila Sésamo”, disse ao
Memória Globo.
Foram incontáveis novelas e outras produções ao
longo dos anos 1970 e 1980, mas foi nos anos 1990 que viveu seus maiores
sucessos.
“Rainha da Sucata”
Em 1990, Aracy Balabanian ganhou do escritor Silvio
de Abreu o papel de “dona Armênia”, em “Rainha da Sucata” – trama cujo tema
principal era “a oposição entre os novos-ricos e a elite paulista decadente”.
A personagem, com referência à ascendência da própria
atriz, era uma armênia rabugenta que morava no Brasil há muitos anos e mãe
superprotetora dos filhos Gera, Gino e Gerson.
Ela acaba se tornando proprietária do terreno onde
está a empresa da protagonista Maria do Carmo (atriz Regina Duarte), que enriqueceu
com os negócios do ferro-velho do pai.
Ao resolver demolir o prédio, dona Armênia viveu um
diálogo que marcou a carreira de Aracy, quando ela promete colocar o prédio “na
chon”.
“Minha mãe era uma mulher toda aplicada, mas nós
tínhamos uma vizinha que falava muito alto, que se metia na vida de todo mundo.
Então, eu fiz um pouco assim. Foi uma loucura o sucesso da personagem”, disse
Aracy ao Memória Globo.
A personagem fez tanto sucesso que Silvio de Abreu trouxe dona Armênia e seus filhos de volta na novela “Deus Nos Acuda”, em 1992.
“Sai de Baixo”
Em 1996, ela vive outro de seus maiores sucessos
como Cassandra, uma das moradoras do 6º andar de um edifício residencial no
centro de São Paulo com vista para o Largo do Arouche, em “Sai de Baixo”.
Contracenando com Miguel Falabella, Marisa Orth,
Claudia Jimenez, Luis Gustavo e outros, Aracy participou das oito temporadas da
sitcom de sucesso da TV Globo, que era gravada no Teatro Procópio Ferreira, em
São Paulo.
A interação com plateia, os atores saindo do personagem
e erros engraçados que não eram cortados na edição viraram marcos do seriado
que teve mais de 240 episódios.
A personagem de Aracy, Cassandra, era mãe de Magda
(Marisa Orth), esposa de Caco Antibes (Miguel Falabella), e foi morar com o
casal após a morte de seu marido.
“Eu me vi fazendo uma coisa que é o sonho de todo
ator: teatro e televisão, ao mesmo tempo. Só que era um espetáculo ensaiado em
uma tarde”, disse Aracy ao Memória Globo.
“Marisa Orth e eu fomos as primeiras a chegar para
o Daniel Filho e dizer: ‘Não vai dar, tira a gente’. Mas eu acho que nós fomos
ficando sem-vergonhas e descobrimos que o público gostava mesmo era de nos ver
errar. Quando passou esse susto de ‘não podemos errar’, a gente se divertiu
muito”, acrescentou.
“Da Cor do Pecado”, “Passione”, “Saramandaia”, “Sol
Nascente” e mais: Aracy continuou a participar de produções da TV Globo até os
últimos anos de vida. Sua última participação foi no especial de fim de ano, em
2019, “Juntos a Magia Acontece”.
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