Governo Lula divulga dado enganoso sobre Bolsa Família induzindo o leitor a achar que houve aumento do número de beneficiários do Bolsa Família, só que houve corte de quase 1 milhão de famílias
Em risco de perder cargo de ministro do
Desenvolvimento, Wellington Dias publicou nota falando sobre a inclusão de 1,3
milhão de famílias, mas oculta que, desde 31 de dezembro (último dia do governo
Jair Bolsonaro), o nº de beneficiários caiu em quase 1 milhão de famílias
O Ministério do Desenvolvimento divulgou nesta 3ª
feira (18.jul.2023) um texto com 1.380 palavras (íntegra – 3,8 MB) que induz o leitor
a achar que houve aumento do número de beneficiários do Bolsa Família.
Com o título “Busca ativa garante inclusão de 1,3
milhão de famílias no Bolsa Família”, a propaganda do governo omite que em 31
de dezembro de 2022 (último dia do governo de Jair Bolsonaro) havia 21,6
milhões de beneficiários no programa. Agora, o total é de 20,9 milhões. Ou
seja, uma queda de 700 mil famílias. O ministério também não menciona a redução
do benefício médio de R$ 705 em junho para R$ 684 em julho.
Houve desde o início do ano um enxugamento de
benefícios a famílias que o governo verificou não cumprirem os requisitos para
o programa. No total, foram 2,7 milhões de cadastros excluídos. Ao menos 3,7
milhões de cadastros foram incluídos pelo governo Bolsonaro nos 3 meses que
antecederam as eleições. Muitos desses cadastros, diz o atual governo, eram
indevidos.
LEIA TAMBÉM:
A informação do release do governo foi publicada
por vários veículos de comunicação, inclusive pelo Poder360. No caso deste
jornal digital, o texto já foi alterado e recebeu um aviso de correção. O
“Jornal Hoje”, da TV Globo, transmitiu uma reportagem de 3min55s e divulgou o
press-release do governo sobre o Bolsa Família sem mencionar a queda no total
de famílias cadastradas.
O Ministério do Desenvolvimento, comandado pelo
petista Wellington Dias (ameaçado de perder a cadeira para alguém indicado pelo
Centrão), começa o press-release assim: “Desde março, quando o Bolsa Família
foi relançado pelo governo federal, 1,3 milhão de famílias foram incluídas no
programa”. Quem lê pode entender que o total de beneficiários cresceu em 1,3
milhão. Essa é uma interpretação errada.
Em 2 de março de 2023, o governo do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva (PT) anunciou formalmente a troca do nome do programa de
Auxílio Brasil para Bolsa Família. Essa ação tem grande valor simbólico para o
Planalto, pois esse tipo de benefício virou marca registrada das campanhas
eleitorais do PT. Era necessário voltar a usar a designação inicial.
Essa mudança de nome foi batizada de relançamento
do programa, embora o Bolsa Família nunca tenha deixado de existir.
Ao festejar o sistema de busca ativa de beneficiários,
em nenhum momento o texto de 1.380 palavras do ministério de Wellington Dias
informa que o total de famílias beneficiadas caiu desde a posse de Luiz Inácio
Lula da Silva como presidente. Ao contrário. O próprio ministro dá ênfase à
interpretação enganosa sobre o que se passou. “Começamos nesta 3ª feira
[18.jul.2023] o pagamento do Bolsa Família. E uma novidade positiva é que
alcançamos 1,3 milhão de famílias que tinham direito ao benefício, muitas delas
passando fome, e agora estão recebendo o novo Bolsa Família”, declara o
petista.
Ao final do texto do governo, há um infográfico
mostrando quanto aumentou (sic) o número de beneficiários do Bolsa Família nas
27 unidades da Federação:
MOMENTO OPORTUNO
A divulgação dos dados com viés positivo para o
Bolsa Família se dá em um contexto de “fritura” do titular da pasta, Wellington
Dias.
O ministro sofre pressão para deixar o cargo e dar
espaço a integrantes do Centrão. O grupo quer indicar o deputado federal André
Fufuca (PP-MA). Apesar de ser do partido do ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL),
Ciro Nogueira (PP-PI), o congressista esteve com o atual ministro da Justiça,
Flávio Dino (PSB) no processo eleitoral. Dino foi eleito senador em 2022.
Fufuca atende ao Centrão, é ligado ao presidente da
Câmara, Arthur Lira (PP-AL), mas não se trata de político hostilizado pelo PT.
Seria um nome palatável para Lula colocar na Esplanada.
Dias também é cobrado por resultados à frente do
ministério do Desenvolvimento. Aliados dizem que ele está “apagado” e não tem
aproveitado o fato de comandar o Bolsa Família para se projetar e também
agradar partidos que possam ajudar Lula no Congresso.
Apesar da pressão para que deixe o cargo, Dias tem
apoio da primeira-dama, Janja Lula da Silva, para permanecer no governo. Lula
também já deu indicações que não pretende tirar o ministro, que é também seu
amigo. Por isso, uma divulgação de dados sobre o Bolsa Família neste momento
pode ajudá-lo a recuperar um pouco do prestígio político, embora os valores
anunciados sejam equivocados.
VALOR TOTAL MAIOR
O governo Lula optou por pagar um benefício médio
maior por família, mas atendendo a menos famílias a partir de 2023, quando o
programa deixou de chamar Auxílio Brasil e voltou para o seu nome original,
Bolsa Família.
Até 31 de dezembro de 2022, o valor médio pago por família era de R$ 670. Em junho, essa cifra foi de R$ 705, pois há pagamentos extras por filhos menores e para casos em que a mulher está grávida. Em julho, esse pagamento diminuiu: foi para R$ 684.
NOTA DO DESENVOLVIMENTO
O Poder360 recebeu uma nota do Ministério do
Desenvolvimento depois da publicação deste post.
A seguir, a íntegra do comunicado:
“Não há nenhuma informação enganosa nos dados
divulgados pelo Ministério. Falamos em inclusões de novas famílias e não em
novos desligamentos, como forma de evitar interpretações que levem à
criminalização de pessoas vulneráveis. O MDS conduz, com serenidade, processos
de averiguação cadastral que terão impactos em benefícios durante todo o ano.
Logo, o Bolsa Família é um programa dinâmico, com entradas e saídas todos os
meses.”
O Poder360 mantém as informações publicadas. O
press-release do Desenvolvimento induz o leitor a entender que só houve
acréscimo de beneficiários no Bolsa Família. Na realidade, houve acréscimo e
cortes, e o saldo de janeiro de 2023 até agora é de 700 mil famílias a menos
sendo atendidas.
Kd o xandao para taxar a #fakenews do CPX?
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