Governo Lula vai cortar 5,5 milhões de famílias do Bolsa Família
Ministra do Planejamento, Simone Tebet, festeja por
que o Tesouro Nacional deve economizar R$ 7 bilhões com os benefícios cortados
A ministra Simone Tebet (Planejamento) estimou que
o corte de cadastros de beneficiários do Bolsa Família possa economizar até R$
7 bilhões por ano. O governo calcula que cerca de 5,5 milhões de cadastros
“unipessoais”, de pessoas sem filhos, podem ser cancelados. Ela participou de
evento da Frente Parlamentar do Empreendedorismo nesta 4ª feira (26.abr.2023).
“Estamos revendo o Cadastro Único, não para fazer uma economia, mas para ver quem está no cadastro que não tem direito. Especialmente homens solteiros que estão trabalhando e que muitas vezes vão para informalidade para poder ganhar os R$ 600“, disse a ministra.
O ministro do Desenvolvimento Social, Wellington
Dias, já havia falado em fevereiro que o programa passaria por uma revisão para
combater fraudes. O governo federal suspeita que há pessoas recebendo o
benefício sem se enquadrar nos critérios.
Se de fato o governo economizar R$ 7 bilhões com o
corte de beneficiários do Bolsa Família, esse dinheiro deixará de irrigar o
comércio. Milhares de pequenas cidades dependem de rendimentos dos brasileiros
que recebem o estipêndio mensal.
Segundo o Ministério do Desenvolvimento Social,
cerca de 10 milhões de famílias precisarão de recadastramento no Bolsa Família,
mas a prioridade do governo serão os 2,5 milhões de casos com “indícios de
problemas” no programa.
O programa tem cerca de 20,9 milhões de famílias
beneficiárias. O orçamento disponível para atender ao grupo é de R$ 175 bilhões
neste ano.
TETO DE GASTOS
A ministra disse que a nova regra fiscal apresentada
pelo governo federal tem como objetivo reequilibrar as contas públicas e, como
consequência disso, promoverá cortes de gastos.
“Nós temos um arcabouço possível. Um bom arcabouço.
[…] Ele não faz mais nada do que o teto de gastos já não tenha feito”, disse.
Tebet reafirmou que uma das metas do teto de gastos
será zerar o deficit das contas públicas em 2024. O governo teve deficit
primário de R$ 40,9 bilhões em fevereiro. Esse foi o maior rombo registrado
para o mês em 26 anos, desde o início da série histórica, em 1997.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
encaminhou em 18 de abril ao Congresso o PLP (Projeto de Lei Complementar) 93
de 2023, que traz a nova regra fiscal. O mecanismo que deve substituir o teto
de gastos terá um limite para investimento extra de R$ 25 bilhões, de 2025 a
2028.
Tebet falou que o novo teto de gastos foi construído a “4 mãos”, fruto de uma parceria do Ministério da Fazenda com o Ministério do Planejamento e Orçamento.
A ministra já havia dito que os programas sociais
ficarão sem recursos em 2024, caso a nova regra fiscal não seja aprovada. Disse
que, se mantido o teto de gastos, o governo terá somente R$ 24 bilhões para
todas as despesas discricionárias no ano que vem, incluindo o Minha Casa Minha
Vida, o Mais Médicos, a manutenção de rodovias e de institutos federais.
A ministra falou sobre sua ida ao ministério, a
pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ela disse que demorou para
aceitar o convite para assumir a pasta e que aceitou mais pelo planejamento do
que pelo orçamento.
Leia mais sobre a nova regra fiscal:
O texto propõe metas fiscais que terão efeitos
sobre o ano de referência e os 3 anos seguintes. Ou seja, o governo terá um
objetivo numérico para o resultado primário, que é o saldo entre as receitas e
as despesas.
Se o governo cumprir a meta fiscal, o crescimento de gastos terá um limite de 70% do aumento das receitas primárias, que são a arrecadação do governo com impostos e transferências. Caso o saldo primário seja inferior à banda, haverá redução do crescimento das despesas para 50% em relação à alta da receita no ano seguinte.
EXCEÇÕES
A nova regra fiscal tem uma lista de despesas
ausentes do limite de gastos. Além do Fundeb (Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento da Educação Básica) e do piso da enfermagem, o texto
apresentado pelo governo inclui outros pontos fora da base de cálculo:
• despesas com universidades, institutos federais e
hospitais públicos;
• aumento de capital de estatais que não dependem
de recursos do Estado, exceto bancos;
• projetos socioambientais ou relativos às mudanças
climáticas;
• execução direta de obras e serviços de
engenharia;
• gastos não recorrentes da Justiça Eleitoral com
eleições;
• acordos de precatórios com desconto;
• cobrança pela gestão de recursos hídricos da ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico).
Na 3ª feira (18.abr), o ministro Fernando Haddad
(Fazenda) disse que as despesas ausentes da nova regra fiscal “estão na
Constituição”. Ele deu a declaração depois de participar da entrega simbólica
ao Congresso do texto da nova regra fiscal, em cerimônia no Palácio do
Planalto.
“Elas [em referência às exceções] não estão no
texto, estão na Constituição. A única coisa que nós fizemos foi reproduzir no
texto aquilo que já está na Constituição e não pode ser alterado por lei
complementar nem por lei ordinária. Nós já esclarecemos isso”, disse em
entrevista a jornalistas.
ORIGEM DA PROPOSTA
O texto busca substituir o teto de gastos,
criticado pelo presidente Lula e por aliados. A proposta foi criada depois que
o governo teve permissão da Câmara e do Senado para gastar R$ 170 bilhões além
do permitido pela lei em 2023.
A PEC (Proposta de Emenda à Constituição) fura-teto
foi promulgada em dezembro. O dinheiro está sendo usado agora para cumprir
promessas de campanha, como a manutenção do Bolsa Família em R$ 600.
Em contrapartida, o texto da PEC exigia que o
governo apresentasse até agosto um novo marco regulatório para as contas
públicas. Haddad teve que se antecipar ao calendário diante da reação negativa
do mercado ao longo período de incertezas.
A equipe econômica avaliou que não seria possível
flexibilizar a política monetária –de taxa Selic elevada– sem anunciar novas regras
que equilibrassem as contas públicas. Na prática, a proposta dará mais
importância à arrecadação federal.
DO QUE DEPENDE
Por se tratar de um projeto de lei complementar, a
proposta precisa de maioria absoluta para ser aprovada. Ou seja, 257 votos na Câmara
e 41 votos no Senado.
O QUE ESPERA O GOVERNO
Em 30 de março, o Ministério da Fazenda apresentou a jornalistas a nova regra fiscal, que estabelece um compromisso de trajetória de alta do resultado primário até 2026, zerando o deficit das contas públicas em 2024 e voltando a atingir superavit primário em 2025 (0,5%) e em 2026 (1%). Essas metas virão na LDO, de acordo com o texto encaminhado ao Congresso.
Há um intervalo tolerado (bandas) de 0,25 ponto
percentual para mais ou para menos de 2023 a 2026.
Nenhum comentário